Cidadãos do Infinito




Santa Igreja
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22/02/2014
NÓS E OS DOIS PAPAS
O que está realmente acontecendo na Igreja


Nós e os dois Papas. .

Por Antonio Socci

Tradução: Gercione Lima – No dia 11 de fevereiro passado recordamos a “renúncia” de Bento XVI ao Papado. O dia 28 de fevereiro marcará um ano desde o fim do seu Pontificado. Mas a cada dia que passa se torna cada vez mais misterioso o que acontece no Vaticano e qual a verdadeira natureza da renúncia de Bento XVI.

 

SEMPRE PAPA

De fato, nos casos anteriores, todos os papas que renunciaram voltaram ao seu status de cardeal ou religioso: o famoso Celestino V, eleito em 1294 reinou apenas cinco meses e depois de ter abdicado voltou a ser simplesmente o eremita Pietro de Morrone.

E tivemos também o Papa legítimo Gregorio XII que, para recompor o grande cisma do Ocidente, retirou-se do ofício papal no dia 4 de julho de 1415 e, logo em seguida, foi reintegrado ao Sacro Colégio com o título de Cardeal Angelo Correr,  tornando-se um “Legado Pontificio” na  região italiana da Marche. (O “Legato do Romano Pontefice” é um enviado do Papa que se torna seu representante junto a uma Igreja local ou autoridade estatal.)

Devido a tal precedente, durante uma conferência com jornalistas no dia 20 de fevereiro do ano passado, o próprio porta-voz de Bento XVI, padre Federico Lombardi, ao ser perguntado: “e se ele decidisse chamar Papa Emérito?”, respondeu textualmente: “Eu excluo tal possibilidade. Emérito é o título que um Bispo mantém como um vínculo mesmo depois de renunciar. No caso do ministério petrino é melhor manter as coisas separadas”.

Famosas palavras, pois apenas uma semana depois, no dia 26 de fevereiro, o mesmíssimo Padre Lombardi teve que anunciar que Bento XVI permaneceria como Papa Emérito ou Romano Pontífice Emérito, conservando o título de Sua Santidade. Ele não usaria mais o anel do pescador, mas continuaria vestindo a batina branca.

Além disso, naqueles mesmos dias, Bento XVI recusou a mudar seu escudo eclesiástico rejeitando seja o retorno ao brasão cardinalício, seja o emblema de Papa Emérito. Conservou o mesmo brasão de Papa com as chaves de Pedro. As duas chaves “decussadas”, uma de ouro e a outra de prata são símbolos do poder espiritual e do poder temporal. E são uma referência do poder máximo do Sucessor de Pedro.

O que significa tudo isso? Obviamente que excluindo qualquer vaidade pessoal da parte de um homem que deu provas de total desapego a cargos terrenos, o resto que trataremos aqui diz respeito a questões teológicas e não de bens mundanos.

Então, só pode haver uma razão ponderada, histórica e eclesial provavelmente ligada aos motivos de sua renúncia. Mas, qual seria esse motivo que se tornou alvo de tantas conjecturas indevidas?

 

PAPA PRA SEMPRE

A única explicação oficial encontra-se em seu discurso do dia 27 de fevereiro de 2013, na qual ele esclarece os limites de sua decisão:

“Aqui gostaria de voltar mais uma vez ao dia 19 de abril de 2005. A gravidade da decisão estava precisamente no fato de que, a partir daquele momento, eu estaria comprometido sempre e para sempre com o Senhor”.

Atenção! Enfatizo a expressão “sempre e pra sempre” porque o Papa a explicou da seguinte maneira:

“Sempre – quem assume o ministério petrino não tem mais nenhuma privacidade. Ele pertencerá sempre e totalmente a todos, a toda a Igreja”.

Em seguida ele acrescenta de modo claro:

“‘Sempre’ significa também ‘para sempre’ – não há mais como voltar à vida privada. Minha decisão de renunciar ao exercício ativo do ministério não revoga isto.”

É incrível como uma frase como essa tenha passado despercebida. Se essas palavras tem algum significado, esse é que Bento XVI afirma estar renunciando ao “exercício ativo do ministério”, mas no que diz respeito ao ministério petrino, esse é para sempre e não pode ser revogado. Nesse sentido, sua renúncia se aplica somente ao exercício ativo e não ao ministério ou ofício petrino.

Que significado diferente pode haver naquelas palavras? Eu não consigo ver. Por isso devemos perguntar que tipo de “renúncia” foi essa de Bento XVI.

Ainda no discurso do dia 27 de fevereiro ele explicava a diferença entre “exercício ativo” e “exercício passivo”  do ministério petrino:

 “Não abandonarei a cruz, mas permanecerei de uma maneira nova perto do Senhor Crucificado. Não carregarei mais o poder do ofício no governo da Igreja, mas no serviço da oração permanecerei, por assim dizer, no recinto de São Pedro. São Bento, cujo nome carrego como Papa, me servirá de grande exemplo nisto”.

“Ele nos mostrou o caminho para uma vida, que, ativa ou passiva, pertence totalmente à obra de Deus.”

 Na verdade, as palavras “para sempre” e “ofício ou ministério não revogado” se somaram aos atos dos quais havíamos falado antes, ou seja, a permanência do nome Bento XVI, a veste talar branca, o título de “Sua Santidade” e o brasão pontifício.

 

EM COMUNHÃO COM FRANCISCO

Por outro lado, esse fato é tão perfeitamente reconhecido pelo Papa Francisco que no dia 11 de fevereiro passado ele divulgava esse tweet: “Eu hoje os convido a rezar por Sua Santidade, o Papa Bento XVI, um homem de grande coragem e humildade”.

Trata-se de uma situação totalmente nova na história da Igreja. De fato, nos séculos passados muitas vezes houve conflitos entre papas e anti-papas, até três de cada vez.

Mas jamais houve o caso de “dois Papas” em comunhão um com o outro, que se reconheciam entre si como “Papas”. Eu digo “dois papas”, considerando que um dos dois é o Papa anterior que se tornou “Papa Emérito”, o que é uma figura inédita na história da Igreja.

Qual seria de fato seu estado teológico? E o que faz da “renúncia ao exercício ativo do ofício petrino” uma situação única?

Bento XVI, falando aos cardeais antes do conclave, antecipou sua reverência e obediência ao sucessor. Este é, com efeito, o comportamento de Bento em relação a Francisco. Se tornou visível a comunhão entre os dois quando eles escreveram a quatro mãos a encíclica ” Lumen fidei”.

Todavia, o que mais nos surpreende é o fato de que nas filmagens em que se mostra o encontro dos dois em Castelgandolfo e também na cerimônia nos jardins do Vaticano para abençoar a estátua de São Miguel, os dois homens se abraçam como irmãos e não há da parte de nenhum deles o gesto do beijo ao anel do pescador. O que nos leva a perguntar: qual dos dois é o Papa?

 

UM SEGREDO ENTRE ELES

Será que existe entre eles um segredo que o mundo ignora? Ou deveríamos considerá-los num mesmo nível? Sabemos que tal situação é impossível, porque pela sua divina constituição a Igreja só pode ter um único Papa. Mas, e então?

Surgem problemas novos e surpreendentes à luz dos quais alguns poderiam atribuir significados inesperados para alguns atos de Francisco, como o fato dele ter se apresentado no balcão do Palácio Papal apenas como “Bispo de Roma”, sem os paramentos de Pontífice, ou a ausência do pálio no seu brasão papal. (O pálio é uma estola confeccionada com lã de cordeiro que simboliza o pastor que cuida das suas ovelhas. Ele é hoje um símbolo da coroação pontifícia em substituição à tiara papal).

É óbvio que aqueles que tentam colocar um contra o outro cometem um ato arbitrário. Por outro lado, alguns lefebvristas e sedevacantistas que contestam a autoridade de Francisco são igualmente hostis a Bento XVI.

 
A oração constante de Bento por Francisco e pela Igreja é talvez o grande sinal profético desse momento histórico.

Todavia não dá pra fingir que tudo é normal porque a situação é quase apocalíptica. E é inevitável questionar os motivos da renúncia de Bento XVI, ou sobre aqueles que assim desejaram, as pressões que eles provocaram e o seu estado atual.

 

UMA ÉPOCA JAMAIS VISTA

Nos dias que se seguiram ao anúncio de sua renúncia, antes mesmo que ele houvesse especificado qual era a sua nova situação, tanto a  revista “Civiltà Cattolica” como o Padre Lombardi cometeram duas gafes.

Foi publicado um ensaio do canonista Gianfranco Ghirlanda em que ele afirmava: “É evidente que o papa que pediu demissão não é mais papa, e não tem mais nenhum poder na Igreja e nem pode interferir em qualquer assunto de governo. Podemos perguntar que título manterá Bento XVI. Achamos que a ele deveria ser atribuído o título de Bispo Emérito de Roma como é dado a qualquer outro Bispo Diocesano em fim de carreira. “

Em todo caso, jamais “Papa Emérito”. Mas ao invés, Bento escolheu continuar como “Papa Emérito”. Deve haver uma razão pela qual ele escolheu permanecer assim. E as consequências são evidentes. Seus sinais são muito importantes para aqueles que são capazes de compreendê-los e para toda a Igreja.

Esse é um sinal de que ele continua a defender o tesouro da Igreja, ainda que de uma maneira nova. E pelo que parece, ele continua a repetir aquilo que disse em sua Missa inaugural: “Rezem por mim, para que eu não fuja por medo dos lobos”.

 

Fonte:http://fratresinunum.com/2014/02/21/nos-e-os-dois-papas-o-que-esta-realmente-acontecendo-na-igreja/

 
OBS: Uma vez sacerdote, sacerdote para sempre. Uma vez Papa, também para sempre. Mesmo que o homem aceite este fato, no céu isso não foi ligado. Que cada um use o discernimento, porque para mim o artigo diz tudo: Muita atenção! Papa é um só!
 
 
 
 
 
 
 




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