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Anjos e Santos da Igreja
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09/02/2012
QUÃO MAGNÍFICAS SÃO AS OBRAS DE DEUS
As hierarquias angélicas


Quais e quantas são as ordens desses seres que vivem no Céu? Como é que cada hierarquia recebe a sua consagração ou o seu aperfeiçoamento? Afirmo que apenas o Princípio Divino poderia responder exatamente a essas questões. Mas os seres angélicos não ignoram nem as qualidades que lhes são próprias, nem a hierarquia sagrada que os rege e que não pertence a este mundo.

É impossível conhecermos os segredos das inteligências que vivem no céu, a menos que Deus nos revele por intermédio dessas mesmas inteligências, as quais não ignoram a sua própria natureza. Portanto, não faremos nada de nossa própria autoria e nos contentaremos em expor na medida dos nossos conhecimentos essas visões angélicas, tal como os santos teólogos as contemplam e tal como eles a nós revelaram.

Os seres angélicos dividem-se em três ordens e possuem nove nomes.

A primeira ordem rodeia a Deus de modo permanente e está unida a Ele constantemente. Ela está em primeiro lugar e não possui qualquer mediação: são os Tronos santíssimos e os batalhões notáveis por seus números de olhos e de asas que recebem os nomes de Querubins e Serafins. Eles têm uma proximidade de Deus superior a todos os outros. Essa ordem de três batalhões formam uma só e constitui a primeira hierarquia de nível igual.

A segunda ordem compõe-se de Virtudes, Dominações e Potestades constituindo a segunda hierarquia.

A terceira ordem constitui a última hierarquia celeste. É a ordem dos Anjos, Arcanjos e Principados.

        Todos os nomes atribuídos às inteligências celestes designam capacidades para eles receberem a semelhança divina.

Querubim em hebraico significa "aquele que arde". Significa também "massa de conhecimento e efusão de sabedoria".

A primeira hierarquia é a mais sublime de todas e graças a sua proximidade com Deus recebe primeiro que as outras as aparições Dele e os seus nomes revelam o modo como se ligam a Ele.

Os Serafins têm como qualidades especiais o movimento perpétuo em torno dos segredos divinos, o calor, a profundidade, o ardor dum constante movimento que não conhece diminuição, o poder de elevarem eficazmente as suas semelhanças aos que lhes são inferiores, comunicando-lhes o mesmo ardor a mesma chama e o mesmo calor. Eles têm o poder de purificarem a evidente e indestrutível aptidão para conservarem a sua própria luz, o seu poder de iluminação e a faculdade de abolirem todas as trevas.

Os Querubins designam aptidões a conhecerem e a contemplarem a Deus, a receberem os mais altos dons da Sua Luz, a contemplarem na sua potência primordial o esplendor divino, a acolherem em si a plenitude dos dons que transmitem sabedoria e a comunicá-los em seguida às essências inferiores graças a expansão da própria sabedoria que lhes foi transmitida.

Os Tronos, sublimes e luminosos, indicam a ausência total de qualquer concessão aos bens inferiores e a tendência contínua para os cumes, que sublinha bem o fato de eles nada terem em comum com o que lhes está abaixo. Eles indicam a sua infalível aversão a toda indignidade, a grande concentração de toda a sua capacidade para se manterem constante e firmemente perto do Altíssimo, a capacidade de receberem indiferentemente todas as visitações da Divindade, o privilégio que têm de servirem de assento a Deus e o seus zelos em se abrirem aos dons de Deus.

Essa é a explicação de seus nomes na medida do que nos é possível revelar aos homens.

Resta-nos dizer o que entendemos pela suas hierarquias. Que o objetivo de toda hierarquia é imitar constantemente a Deus; que toda a função hierárquica consiste em acolher e transmitir a pureza sem mistura da luz divina e da sabedoria, como já o dissemos.

Agora proponho-me a mostrar o que as Escrituras revelam das suas hierarquias.

Esses seres angélicos constituem uma só hierarquia inteiramente homogênea. Devemos pensar que eles são puros não apenas por estarem livres de todo o pecado e de tudo o que é profano, mas porque eles ignoram toda a imaginação material; porque estão acima de toda a fraqueza; porque a sua sublime pureza ultrapassa a de quaisquer outras inteligências angélicas; porque conservam sem qualquer perda ou corrupção a estabilidade perpétua do poder que possuem de estarem em harmonia com Deus.

Eles são igualmente contemplativos. Não porque contemplem intelectualmente símbolos nem porque se elevem espiritualmente através de santas alegorias, mas porque recebem em toda a plenitude o saber de uma Luz superior através da contemplação desse Ser Sobreessencial e triplamente luminoso, que está na origem e no princípio de toda a beleza. Eles têm igualmente o mérito de entrarem em comunhão com Jesus através de uma verdadeira proximidade, pois tomam parte no conhecimento de Suas operações divinas, uma vez que lhes foi dada no mais alto grau a capacidade de imitarem a Deus. Eles entram em contato tanto quanto lhes é possível com as virtudes, pelas quais Ele exerce a Sua ação divina face aos homens e manifesta o Seu amor por eles.

Eles são perfeitos não pela iluminação de uma sabedoria que lhes permitiria analisar a variedade dos santos mistérios, mas pela plenitude duma deificação, pela ciência superior que possuem na qualidade de mensageiros das operações divinas. É diretamente de Deus que eles recebem a iniciação sagrada e é graças a esse poder de se elevarem diretamente até Deus, que eles devem a superioridade sobre todos os outros seres.

Os teólogos mostram claramente que as ordens inferiores das essências celestes aprendem de seus superiores tudo o que lhes concernem às operações divinas, enquanto que a ordem mais elevada é iniciada por Deus. Eles nos revelam, que certos anjos são iniciados por aqueles que possuem um nível mais elevado que o seu e que aprendem através desses, que Deus é o Senhor das potências celestes, o Rei da Glória, que sob a forma humana subiu aos céus. Outros recebem de Jesus Cristo a sua iniciação sem intermediários, recebendo d’Ele antes de todos os outros a revelação da obra redentora que Ele levou a cabo por amor aos homens.

"Eu sou (responderá Ele) O que falo a justiça, e venho para defender e salvar" (Is 63:1).

Assim é, tanto quanto eu posso conhecer, essa primeira ordem das essências celestes, aquela que rodeia a Deus e que se situa na Sua vizinhança, aquela que envolve o Seu perpétuo conhecimento. Ela pode não somente contemplar, mas ainda receber iluminações e sustentar-se do maná divino.

Digna ao mais alto nível, de entrar em comunhão e em cooperação com Deus, essa primeira ordem assemelha-se tanto quanto pode à bondade dos poderes e das operações próprias a Deus.

É por isso que a teologia nos transmite os hinos que cantam esses anjos, onde se manifesta o caráter transcendente da sua sublime iluminação. Se ousarmos utilizar uma imagem terrena, eles se assemelham à voz de uma torrente tempestuosa quando gritam: "Bendita seja a glória do Senhor, que se vai do seu lugar" (Ez 3:12). Outros anjos entoam o hino célebre e venerável: "Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus dos exércitos, toda a terra está cheia da Sua glória" (Is 6:3).

Nessa primeira ordem das essências celestes estão os lugares divinos, onde segundo a expressão das Sagradas Escrituras a Divindade "repousa". Essa ordem ensina também aos outros anjos que a Divindade é una. Una em Três Pessoas e que Ela exerce a sua Providência benfeitora desde as essências que vivem no céu até as mais baixas criaturas terrenas, pois Ela é o Princípio e a Causa de toda a essência e é Ela que envolve o universo inteiro de modo sobreessencial num abraço irresistível.

        Abordaremos agora a segunda ordem das inteligências celestes iniciando-nos no conhecimento das Dominações, Virtudes e Potestades.

Cada uma dessas denominações revela a forma própria de cada inteligência angélica de imitar e se configurar a Deus.

O nome das santas Dominações significa a elevação espiritual livre de qualquer compromisso terreno tal como convém a uma entidade incorruptível e verdadeiramente livre, tendendo com um firme vigor para o verdadeiro princípio de toda a Dominação, recebendo ela e os seus subordinados à medida das suas forças a semelhança do Senhor e participando do princípio constante e divino de toda a Dominação.

No que concerne às santas Potestades o seu nome indica uma certa vigorosidade corajosa em todos os atos pelos quais se configuram a Deus. Uma vigorosidade que exclui qualquer enfraquecimento de forças no recebimento das iluminações divinas que lhe é outorgada; uma vigorosidade que se eleva corajosamente até a imitação de Deus e que não abandona a ascensão à forma divina e cujo olhar permanece rigidamente direcionado para a fonte de toda a potestade Sobreessencial. Porque essa vigorosidade torna-se imagem da potestade, da qual ela assume a forma, ligando-se a ela com todas as suas forças para fazer descer sobre as essências inferiores o seu processo dinâmico e deificante.

O nome das Virtudes indica que ela tem o nível igual das Dominações e Potestades. Ela é disposta harmonicamente e sem confusão para receber os dons divinos. Ela indica ainda que o poder intelectual que lhe pertence é perfeitamente ordenado e que longe de abusar do seu poder ela se eleva harmoniosamente para as realidades divinas, conduzindo na sua bondade as essências inferiores e imitando tanto quanto pode a virtude fundamental, que é a fonte de toda a virtude sem deixar de difundí-la na medida de sua capacidade.

Eis como a segunda hierarquia das inteligências celestes manifesta a sua identidade com Deus. É assim que ela se purifica, se ilumina e se aperfeiçoa graças às iluminações divinas que lhe são transmitidas pelos membros da primeira ordem hierárquica.

Essa tradição, que se transmite regularmente de anjo a anjo, simbolizará a nós essa perfeição que vinda de longe, se confunde descendo progressivamente do primeiro ao segundo nível. Do mesmo modo, as evidentes perfeições das realidades divinas são mais perfeitas que as participações nas visões divinas que se fazem através de intermediários. Assim parece-me que a participação imediata das ordens angélicas que mais se aproximam de Deus é mais clara que a dos anjos cuja iniciação é mediata. É por isso que segundo os termos consagrados pela nossa tradução as primeiras inteligências iluminam e purificam as que têm um nível (hierárquico) inferior, de modo que essas últimas elevadas por intermédio da primeira até o princípio Universal e Sobreessencial tomem parte tanto quanto lhes é possível nas iluminações e nos aperfeiçoamentos operados por Aquele, que é o princípio de toda a perfeição.

A Lei Universal, pela qual as essências celestes da segunda ordem participam por intermédio das de primeira ordem nas iluminações divinas, é instituída pelo Princípio Divino.

Deus no Seu amor paternal pelos homens depois de ter corrigido Israel para convertê-lo e reconduzí-lo ao caminho da salvação, livrou-o em primeiro lugar da barbárie vingativa das nações, a fim de assegurar o aperfeiçoamento aos homens submetidos a Sua providência e praticou em seguida o ato de libertá-lo de seu cativeiro e de devolvê-lo a sua antiga felicidade. Como diz as Sagradas Escrituras segundo a visão de um de seus teólogos Zacarias (Zac 1:8-17), parece ter sido um anjo da primeira ordem, daqueles que vivem junto de Deus, que recebeu do próprio Deus as palavras consoladoras. Foi enviado ao encontro do primeiro um outro anjo pertencente aos níveis inferiores para receber e transmitir a iluminação e que uma vez iniciado na vontade divina, confiou ao teólogo a santa nova de que Jerusalém refloresceria e que multidões de homens a repovoariam.

Um outro teólogo Ezequiel declara que essa lei foi santamente instituída por Deus e que na Sua glória mais elevada do que qualquer outra, Ele comanda os Querubins.

"Estes são os mesmos animais que eu vi debaixo do Deus de Israel, junto do rio Cobar; e conheci que eram Querubins" (Ez 10:20).

Deus no Seu amor paternal pelos homens e querendo punir Israel para os ensinar ordenou por um ato de justiça que os inocentes fossem separados dos responsáveis. É o primeiro dos Querubins que segundo o texto sagrado recebe a santa ordem e se reveste de um manto que caí até os pés como símbolo da sua função sagrada. Em seguida, somente o Princípio Divino de toda a ordem prescreve ao primeiro dos anjos que o segredo da decisão divina seja transmitido àqueles anjos que usam armas destruidoras. Lhe é ordenado ainda que atravesse toda a cidade de Jerusalém e marque os inocentes nas suas frontes. Aos outros anjos Ele ordena: "Passai pelo meio da cidade, seguindo-o, e feri: não sejam compassivos os vossos olhos, nem tenhais compaixão alguma. O velho, o jovem e a donzela, o menino e as mulheres, matai todos, sem que nenhum escape; mas não mateis nenhum daqueles sobre quem virdes o tau; começai pelo Meu santuário. Começaram, pois pelos anciãos que estavam diante da casa do Senhor" (Ez 9:5-6).

E que dizer ainda daquele anjo que anunciou a Daniel: "Desde o princípio das tuas preces, foi dada esta ordem, e eu vim para ta descobrir, porque tu és um varão de desejos; toma, pois, bem sentido no que vou dizer-te e compreende a visão" (Dan 9:23).

Ou daquele que recebe o fogo do meio dos Querubins: "E (o Senhor) falou ao homem que estava vestido de roupas de linho, dizendo: Vai ao meio das rodas que estão debaixo dos Querubins, enche a tua mão de carvões ardentes, que estão entre os Querubins, e espalha-os sobre a cidade..." (Ez 10:2).

E ainda daquele que demonstra mais claramente a boa ordem que preside aos anjos: o Querubim que toma o fogo e o põe nas mãos daquele que estava vestido de roupas de linho (Ez 10:6-7).

Que dizer igualmente daquele que chamou o divino Gabriel e lhe disse: "Ouvi a voz dum homem no meio de Ulai, o qual gritou e disse: Gabriel, explica-lhe esta visão" (Dan 8:16).

Ou que dizer enfim de todos os outros exemplos fornecidos pelos santos teólogos?

          Falta-me contemplar a terceira ordem que termina a hierarquia angélica e que se compõe de Principados, Arcanjos e Anjos. Creio que em primeiro lugar é preciso explicar o sentido desses nomes sagrados.

O nome dos Principados celestes significa que eles possuem na ordem sagrada um princípio e uma hegemonia de forma divina; que eles possuem das potências de comando da mais alta conveniência o poder de se converterem inteiramente ao Princípio que está acima de todo o princípio e de conduzirem os outros para eles com uma autoridade primordial e de revelarem o Princípio Sobreessencial de toda a ordem pela harmonia do seu comando.

Os Santos Arcanjos têm o mesmo nível que os Principados celestes e formam uma única hierarquia juntamente com os Anjos.

A ordem dos Arcanjos, graças ao seu lugar intermediário na hierarquia, participa nos dois extremos uma vez que ela entra em comunhão com os Principados e com os Anjos. Em um dos extremos ela participa no sentido de sua conversão ao Princípio Sobreessencial e lhe confere a unidade graças aos poderes invisíveis da harmonização; no outro extremo ela participa no sentido de também pertencer ao nível dos intérpretes, recebendo hierarquicamente a iluminação por intermédio das potências do primeiro nível transmitida aos Anjos e por intermédio desses transmitida a nós na medida em que cada um possa recebê-la através dos segredos divinos.

Como já dissemos, os Anjos terminam e completam a regra das inteligências celestes, porque são eles que possuem entre elas o mais baixo grau da qualidade angélica e se nós os designamos por anjos é precisamente porque por seu intermédio se manifesta a sua hierarquia mais claramente aos nossos olhos.

A ordem superior (Tronos, Querubins e Serafins) mais próxima — pela sua dignidade — do Santuário Secreto inicia misteriosamente a segunda ordem, aquela que se compõe das Dominações, Potestades e Virtudes, que por outro lado comanda os Principados, Arcanjos e Anjos. A segunda ordem revela os mistérios menos secretamente que a primeira ordem mas menos abertamente que a última. A função reveladora pertence à ordem dos Principados, Arcanjos e Anjos. É ela que através dos graus da sua própria ordenação preside as hierarquias humanas, a fim de que se produzam de modo ordenado a elevação para Deus, a conversão, a comunhão, a união e ao mesmo tempo o movimento que provem de Deus que gratifica liberalmente todas as hierarquias e dons e as ilumina, fazendo com que essas hierarquias humanas entrem em comunhão com essa função reveladora. Daí resulta, que a teologia reserva aos Anjos o cuidado pela nossa hierarquia chamando a Miguel o arconte (magistrado da Grécia antiga) do povo judeu e aos outros anjos arcontes de outras nações, porque: "Quando o Altíssimo dividiu as nações, quando separou os filhos de Adão, fixou os limites dos povos segundo os números dos filhos de Israel" (Dt 32:8) (versão dos 70).

Se nos perguntarmos como é que apenas o povo judeu foi elevado às iluminações de origem divina? É necessário dizer que os anjos preencheram de justiça a sua função de vigilância e não é culpa deles se outras nações se envolveram no culto de falsos deuses. Foram essas nações, com efeito, que pelos seus próprios movimentos abandonaram a via da ascensão espiritual para o divino. Foi à medida do seu orgulho e da sua presunção que elas veneraram os ídolos que lhes pareciam divinos. O povo hebreu testemunha propriamente essa verdade, pois a ele sucedeu-se o mesmo acidente. Porque as Sagradas Escrituras dizem: "O meu povo calou-se, porque não teve ciência. Porque tu (ó sacerdote) rejeitaste a ciência, também Eu te rejeitarei a ti" (Os 4:6).

Nem a nossa vida é necessariamente determinada, nem a liberdade dos seres submetidos à Providência das luzes divinas priva essas luzes do seu poder de iluminação providencial. Mas é a suficiente assimilação das visões — e da sabedoria que por elas é transmitida — que impede toda a participação nos dons luminosos da bondade paternal e constitui obstáculo a sua difusão, na medida em que torna as comunicações desiguais, pequenas ou grandes, obscuras ou claras, enquanto que a Fonte Radiante permanece única e simples sempre idêntica a si própria e superabundante. É assim mesmo entre as outras nações, nações das quais nós nos elevamos para o oceano indefinido e generoso dessa Luz Divina, que difunde os Seus dons sobre todos os seres. É para o único Princípio Universal que os anjos encarregados de cuidar de cada nação elevaram todos aqueles que os quiseram seguir.

Lembremo-nos de Melquisedec que teve em si próprio um grande amor a Deus, do Deus Altíssimo e Verdadeiro. Os conhecedores da Sabedoria Divina não se contentaram em chamá-lo de amigo de Deus, mas chamaram-no de Sacerdote para indicar claramente aos homens sensatos que o seu papel não foi somente o de converter-se ao culto do verdadeiro Deus, mas ainda enquanto grande sacerdote teve a função de conduzir a outros na ascensão espiritual, a qual leva à Única e Verdadeira Divindade.

"E Melquisedec, rei de Salém, trazendo pão e vinho, porque era sacerdote do Deus Altíssimo" (Gên 14:18).

Não nos esqueçamos do faraó que aprendeu sob a forma de visão de um anjo dedicado ao cuidado dos egípcios (Gên 41:1-7), tal como do príncipe dos Babilônios que aprendeu através do seu anjo particular; a solicitude do poder universal (Dan 12). Ministros do verdadeiro Deus, os anjos foram instituídos como condutores dessas nações para interpretarem as visões enviadas por Deus sob a forma alegórica, por intermédio de homens cuja santidade era próxima a dos anjos como Daniel e José; porque no Universo há um só Princípio e uma só Providência. Não poderíamos imaginar que Deus partilhasse o governo do povo judeu com anjos ou falsos deuses. As expressões que nos poderiam fazer crer nisso, devem ser interpretadas segundo um sentido sagrado. Elas não significam que Deus tenha partilhado o governo da humanidade, mas sim que neste mundo em que a Providência universal do Altíssimo tinha confiado para a salvação de todos os povos com anjos encarregados de os conduzir a Ele, foi só Israel que converteu-se à Luz e confessou o verdadeiro Senhor. Por isso, para mostrar que Israel tinha se devotado ao culto do verdadeiro Deus as Sagradas Escrituras exprimem-se assim: "A porção, porém, do Senhor é o Seu povo" (Dt 32:9).

Mas para mostrar que um dos anjos foi designado para a função de conduzir esse povo à confissão d’Aquele que é o Princípio Único e Universal, a teologia relata igualmente que Miguel preside ao governo do povo judeu. "Mas Eu te anuciarei o que está expresso na Escritura da Verdade; e em todas estas coisas ninguém Me ajuda senão Miguel, que é o vosso príncipe" (Dan 10:21).

As Sagradas Escrituras nos ensinam assim de modo claro, que não existe mais do que uma só Providência para o universo inteiro. Providência sobreessencialmente, transcendente a toda a potência visível ou invisível. Na medida do possível, todos os anjos dedicados a cada nação elevam para essa Providência aqueles que os seguem de bom grado.

        Concluamos, portanto, que a ordem mais antiga dentre as inteligências que envolvem Deus, iniciada nos mistérios pelas iluminações que lhe vêem do próprio Princípio de toda a iluminação, recebe purificação, iluminação e aperfeiçoamento graças ao Dom das iluminações mais secretas da Divindade.

Depois dessa e proporcionalmente a sua natureza vem a segunda ordem, depois a terceira e por último a hierarquia humana. Todas as ordens se elevam hierarquicamente para o Princípio fundamental de toda a harmonia. Elas são reveladoras e mensageiras das que as precedem. Deus as distinguiu segundo os modos de harmoniosa deificação que convém em particular a cada uma. Os teólogos dizem que os Serafins trocam mútuos clamores mostrando assim segundo creio e de modo claro, que os primeiros transmitem aos segundos conhecimentos teológicos. "Clamavam um para o outro e diziam: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus dos exércitos" (Is 6:3).

       Uma vez colocada essas questões convém considerar porque razão nos acostumamos a chamar igualmente "potências celestes" a todas as essências angélicas. Não podemos dizer como o fizemos para o termo Anjo, que a ordem das Santas Potestades é a última das ordens e que as essências superiores participam na iluminação das ordens inferiores e que essas últimas não tomam parte na iluminação das primeiras. Tal explicação não justificaria a extensão do nome de potestades celestes a todas as inteligências divinas dos Serafins, dos Tronos ou das Dominações em virtude do princípio segundo o qual as ordens inferiores não participam nas propriedades das superiores. Restariam os Anjos e antes deles os Arcanjos, os Principados e as Virtudes que os teólogos subordinam às Potestades e que recebem freqüentemente na linguagem comum o nome de potestades ou potências celestes ao mesmo título que os outros anjos.

Ao usar o nome de potestades para designar todas as essências não introduzimos nenhuma confusão nas propriedades de cada ordem. No seio de todas as inteligências divinas distinguimos com efeito três qualidades: a essência, a potência e o ato. Se nos ocorre designá-las indistintamente por essências ou potências celestes importa considerar que o fazemos por rodeio de palavras e não se trata de atribuir na totalidade às essências subordinadas a eminente propriedade das santas potestades. Como já foi dito, as ordens superiores possuem as propriedades das inferiores, porque somente uma parte das iluminações primordiais é transmitida às ordens inferiores à medida de suas capacidades.

 

 São Dinis, o Areopagita

 






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