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Doutrina Católica
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01/12/2021
O que é a transubstanciação?
A Eucaristia não é um pão comum, ao qual a comunidade de fiéis atribuiria, num contexto religioso, um “significado” distinto ou uma “finalidade” diversa, como meio de exprimir certos sentimentos de pertença, fraternidade ou união.


Vimos já, nas últimas duas aulas, o dogma fundamental da fé eucarística: Nosso Senhor Jesus Cristo, em corpo, sangue, alma e divinidade, está real e substancialmente presente sob as espécies ou aparências de pão e de vinho. Trata-se de uma verdade claramente atestada não só pelo magistério da Igreja e pela sagrada Tradição, mas pela própria Escritura. Por isso nos detivemos na aula passada em examinar o testemunho mais antigo sobre a presença real: o capítulo 23 da primeira carta de São Paulo aos coríntios, onde o Apóstolo, a fim de explicar a gravidade da comunhão indigna, remete às palavras da instituição: Isto é o meu corpoEste é o cálice do meu sangue, que supõem ser Cristo mesmo aquele a quem se recebe na Eucaristia.

Mas a Igreja não crê apenas que o Senhor está presente sob as espécies sacramentais. Crê também que essa presença se dá de um modo não menos admirável e espantoso, chamado tradicionalmente de transubstanciação. Ouçamos primeiro o que a este respeito declarou o Concílio de Trento em sua 13.ª Sessão, capítulo 4:

[…] porque Cristo, nosso redentor, disse que aquilo que oferecia sob a espécie do pão (cf. Mt 26,26-29; Lc 22,19s; 1Cor 11,24-26) era verdadeiramente seu corpo, existiu sempre na Igreja de Deus a persuasão que este santo Concílio novamente declara: pela consagração do pão e do vinho realiza-se uma mudança de toda a substância do pão na substância do corpo de Cristo, nosso Senhor, e de toda a substância do vinho na substância de seu sangue. Esta mudança foi denominada, convenientemente e com propriedade, pela santa Igreja católica, transubstanciação (DH 1642).

Disto decorre ser também de fé católica o seguinte: 1) após a consagração, já não permanece nada da substância do pão e do vinho; 2) permanecem porém as espécies de um e de outro, ou seja, as aparências acidentais, perceptíveis pelos sentidos externos; 3) a substância do pão e do vinho não é corrompida ou aniquilada, senão que se converte totalmente na substância do corpo e do sangue de Cristo, e a essa conversão se dá com propriedade o nome de transubstanciação, segundo o uso quase milenar da Igreja latina.

Nesse sentido, a fé exige, para sua íntegra ortodoxia, que professemos não só a presença real como o modo pelo qual se realiza, a saber: convertendo-se toda a substância do pão e toda a do vinho na substância do corpo e na do sangue de Cristo, respectivamente, sem restar nada daquelas. É por isso, entre outros motivos, que a doutrina da consubstanciação é verdadeiramente herética, já que nega não a presença real, mas o modo por que se realiza, sustentando que a substância do pão e do vinho permanece com ou unida à do corpo e à do sangue de Cristo.

É verdade que o termo “transubstanciação” é de origem mais ou menos recente (parece que o primeiro a utilizá-la foi Estêvão de Autun, já no séc. XII), mas tornou-se comum entre os latinos desde há muitos séculos, vindo a ser aprovado pelo próprio magistério, como vimos acima, dada a precisão com que exprime o dogma da fé e exclui os erros contrários. Etimologicamente, a palavra significa translação de substância, isto é, o ato pelo qual uma substância torna-se ou muda-se em outra. Por substância entende-se aqui a coisa a cuja essência convém ser em si mesmo, e não em outro como em um sujeito. Neste sentido, a noção de substância opõe-se à de acidente, que designa todo ente a cuja essência convém ser não em si mesmo, mas em outro como em seu sujeito.

Em linhas gerais, substância é o que, em cada coisa, serve de sujeito no qual inerem todas as outras determinações acidentais (por exemplo, a quantidade e qualidades como cor, textura, cheiro etc.), as quais não alteram o que a coisa é essencialmente. Podemos dizer então que a substância é como que o núcleo íntimo das coisas, que as faz ser o que são (ou seja, de tal ou qual natureza), e que permanece em si mesmo invariável no curso das modificações acidentais. Assim, por exemplo, a substância de um cachorro permanece idêntica a si mesma ao longo de todo o seu processo de crescimento, ainda que aumente a massa corpórea, caiam e cresçam pelos, unhas e dentes.

Dito isto, fica claro o que transubstanciação quer dizer no vocabulário teológico da Igreja. Em virtude das palavras da consagração proferidas por um ministro ordenado, realiza-se no altar uma conversão singular, porque não se dá na ordem natural nenhum outro exemplo, admirável, porque é verdadeiramente misteriosa, acima de nossa capacidade de compreensão, pela qual deixa de estar presente a substância do pão e do vinho (isto é, o sujeito ou substrato que está sob os acidentes, como algo permanente e constitutivo), a qual não é aniquilada, mas convertida totalmente (isto é, em razão tanto da forma quanto da matéria) na substância do corpo e do sangue do Senhor, permanecendo só, embora realmente, os acidentes ou aparências sensíveis de pão e de vinho (tamanho, peso, cor, figura, textura, cheiro, sabor e demais propriedades físico-químicas).

A Eucaristia, por consequência, não é um pão comum ao qual a comunidade de fiéis atribuiria, num contexto religioso, um “significado” distinto ou uma “finalidade” diversa [1], como meio de exprimir certos sentimentos de pertença, fraternidade ou união. É, pelo contrário, verdadeiro pão vivo, pão da vida e dos anjos, porque sob o que é mera aparência de pão se oculta Cristo glorioso, com sua carne e seu sangue, com sua alma e sua divindade, oferecido ao Pai em estado de vítima e entregue a nós como alimento espiritual.




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