Cidadãos do Infinito




Para ler e meditar
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10/02/2012
CUIDADO NO FALAR


Uma das causas de muitas desavenças, mais ou menos graves, na família e nos grupos sociais, são as más línguas, ou antes, o mau uso da língua. Dizem que é esse o fraco do belo sexo.

 

Sem nos pronunciarmos a respeito dessa afirmativa, limitamo-nos, em assunto tão delicado e melindroso, a dar alguns avisos que julgamos de utilidade prática. Visamos, claro está, apenas aqueles que não sabem refrear esse tão pequenino órgão que Deus nos concedeu, para que louvássemos o Seu santo nome, cantássemos as Suas glórias e comunicássemos com os nossos semelhantes.

No batismo, a língua recebe o sal da sabedoria e, na sagrada comunhão, tem a insigne honra de servir de altar ao Deus de toda a santidade, antes de baixar ao nosso peito. Merece, portanto, grande cuidado da nossa parte.

Muito importa que as pessoas aprendam desde cedo, a arte de se servirem bem da língua. E por quê? Porque muitas vezes a pessoa deita a perder tudo, por falar antes do tempo, por falar com precipitação, por falar alto, enfim por falar muito e mal.

Suponhamos um marido que não seja lá o que devia ser; que beba um ou dois copos demais; que volte para casa tarde; que seja um pouco ou muito impertinente; que tenha enfim todos os defeitos, sem nenhuma qualidade boa; dizei-me, que ganhará a mulher com resmungar, gesticular, gritar e descompor?

Que lucrará, pondo-se a injuriar aquele pobre homem, já de si tão infeliz, com tantos defeitos, para que venham ainda amesquinhá-lo com um libelo, em que certas mulheres levam vantagem a qualquer promotor da justiça pública?

Ora, raciocinemos um pouco:

 

1º - Não faleis antes do tempo.

Malha-se o ferro em quanto está quente, diz o adágio popular; mas isso vale do ferro que se deixa malhar sem um protesto e é singularmente maleável, quando quente. O mesmo, porém, não se dá com o marido.

Quando a cólera lhe pôs o cérebro em ebulição e a bebida lhe subiu à cabeça; quando foi mal sucedido em algum negócio ou se vê assoberbado pelos muitos afazeres, aceitai o meu conselho: não digais nada, não resmungueis e, sobretudo, não griteis. Ao contrário, consolai-o, dizendo-lhe uma palavra de conforto mostrai-lhe enfim, que sua mulherzinha partilha com ele todas aquelas apreensões. Se, a vossa língua ameaçar revoltar-se, tomai um copo de água e ide bebendo gole a gole, até afogar a revolta.

- Mas, então, não poderei fazer-lhe observação alguma?
- Sim, mas esperai que passe a tormenta e que o vosso marido volte à calma; esperai até amanhã e então, em termos muito comedidos, afável e persuasiva, mas breve - os homens não gostam de sermões; muito compridos, máxime feitos por mulheres - suplicai-lhe, pelo amor que deve aos filhos, que sacrifique aquele vício, origem de tantas desavenças e misérias. Sob a forma de pergunta, dai-lhe algum bom conselho que vos ocorra, mesmo sobre a direção dos seus negócios.

Experimentai, minhas senhoras, e vereis os admiráveis efeitos desta receita. O pobre homem não se corrigirá de uma só vez, tornará a cair ainda, mas, sede generosa e perdoai-lhe de alma grande, porque "o espírito está pronto, mas a carne é fraca". Quando menos, ele vos há de ouvir e as vossas palavras lhe irão direito ao coração.



2º - Não faleis apressadamente.

É outra condição indispensável, para que uma observação tenha probabilidades de bom êxito. Quando se fala pausadamente, também há tempo de refletir; do contrário, dizem-se muitas palavras e muitas asneiras também.

Ora, para que uma mulher tenha fundadas esperanças de alcançar o resultado que espera de suas observações, conselhos ou súplicas, é necessário que as palavras sejam muito ponderadas.

Refleti, portanto, antes de falar, pesai bem o que pretendeis dizer ao marido e, se perceberdes que o vosso discurso irá ser mal recebido, então vencei-vos corajosamente e refreai a língua. Mas, se há esperanças de bom êxito, procedei com cautela, devagar, sem perder a calma, ainda mesmo diante de qualquer imprevisto desagradável.



3° - Não faleis muito alto.

Quando se fala apressadamente, porque se está excitado e, então, fala-se também muito alto, ou por outra, grita-se. Ora, vamos, minhas senhoras; quereis fazer uma observação ao marido e uma observação de todo ponto razoável - assim o supomos, porque, muitas vezes, uma observação nos parece razoável e não é senão muito extemporânea - pois bem, não basta que só ele ouça o que lhe quereis dizer? Os filhos nada, devem perceber; mas, se vos pondes aos gritos, em presença deles contra o marido, claro está que lhe diminuis a autoridade.

Os próprios criados, se vos ouvirem, poderão, no momento oportuno, por qualquer incidente, faltar-vos ao respeito e dizer-vos: "Mas, minha senhora quem poderá entender-vos? Se até ao marido pretendeis dar lições aos gritos, que consideração podereis ter para com os criados?".

Uma mulher que grita com o marido ou mesmo com os filhos, perde toda a autoridade perante os súditos e não será de estranhar que, súditos e filhos, aborrecidos daquelas cenas tantas vezes repetidas, abandonem a casa á procura de outra, onde não tenham de assistir todos os dias a incidentes tão desagradáveis. E não deixam de ter motivo.

Cuidai, sobretudo, minhas senhoras, que a vizinhança não vos ouça perorar. Expondes-vos a que, nas ruas e praças, se proclame a vossa voz, como muito própria desses vendedores de peixe fresco que percorrem diariamente as cidades. Não sei se lhes ambicionais o emprego e a reputação; o que é certo, porém, é que a mulher, que não quiser ver apregoada por toda parte a sua falta de caridade, deverá ter o cuidado de fazer suas observações muito reservadamente, de modo que nunca passem da soleira da porta para fora.



4° - Falai com modos.

Nunca useis expressões grosseiras, ofensivas, humilhantes; tais expressões deprimem uma pessoa e o marido levará impresso na alma, por muito tempo, um ressentimento funesto e doloroso, que o irá separando cada vez mais de sua companheira. Ao contrário, as palavras e observações retemperadas na caridade, despertar-lhe-ão o afeto.

A ira, minhas senhoras, a ninguém serve de enfeite e, muito menos, às mulheres; em um homem fica mal, em uma mulher é execrável, o Espírito Santo e os Santos Padres assim estigmatizam a cólera, que, por sua natureza, não concorre nunca para aproximar corações: "É preferível fugir para o deserto, a morar com uma mulher arengueira. Não há ira pior do que a da mulher; é capaz de tudo”.

A pessoa irada não distingue o bem do mal; prudência, bom senso, tudo desaparece e o homem fica como que atacado de demência.

Aliás, minhas senhoras, tal procedimento é contrário ao respeito e consideração a que o chefe de família tem incontestável direito. O marido é sempre marido, e o pai é sempre pai, ainda quando venha a faltar aos deveres de sua alta missão, e nunca mulher ou filhos têm o direito de lhe faltar com o devido respeito.

O meio mais inepto de reconduzir um transviado ao bom caminho, é atirar-lhe palavras injuriosas e expressões humilhantes. Quando o marido vier tarde para casa ou tiver empinado um pouco ou muito, rezai, em lugar de discutir.

Uma senhora, li eu algures, depois de violenta discussão com o marido, foi procurar o venerando chefe do Centro Alemão, Windhorst, para requerer o divórcio.

-Não posso mais com a vida do meu marido, começou ela; todas as noites me entra em casa bêbado e então, está visto, desaba uma verdadeira tormenta.
- E que faz a senhora nessas ocasiões, perguntou o magistrado.
- Que faço? Ali mesmo lhe dou o troco. O senhor compreende, a gente perde a calma, em presença de semelhante bruto.
- Minha senhora, tornou Windhorst, quer-me parecer que no vosso mobiliário falta uma peça: ide depressa comprar um genuflexório. Todas às vezes que o marido vos entrar em casa bêbado, gesticulando, aos gritos, correi ao genuflexório e ide discutir com o bom Deus, em lugar de fazê-lo com ele.

A receita deu excelente resultado e não foi preciso recorrer ao divórcio.

Não é isso, porém, o que geralmente fazem certas mulheres, e o pobre marido tem de sujeitar-se a receber uma saraivada de grosserias, quiçá, sem o haver merecido. O pobre mártir da mulher, perde logo as estribeiras e, em lugar de ir muito sossegadamente respirar um pouco de ar fresco, saí porta a fora, e põe o quarteirão todo em alvoroço vomitando imprecações com aquela excelente voz de barítono que a natureza lhe deu. Não faltará quem diga que, afinal, a mulher não lhe meteu a faca nos peitos, para que se ponha a praguejar daquele jeito, aos ouvidos de toda a redondeza; outros, porém, acharão que procede muito bem, como sendo aquele o melhor e único meio de amordaçar a língua malcriada da cara metade.

Ouvimos uma vez alguém sugerir aos maridos que têm a desgraça de possuir uma mulher assim, um meio mais brando, mais humano e mais eficaz também. Aí vai, tal qual o ouvimos:

"Quando, ao entrardes em casa, se vos apresentar a esposa com cara de poucos amigos, capaz de irritar as paredes, a encher-vos os ouvidos com umas tantas grosserias esganiçadas, fazendo-vos subir o sangue às ultimas culminâncias do cérebro, tomai o chapéu, o sobretudo e a bengala, e ide passear ou tomar um trago, porém, não mais do que um. Voltai dali a uma hora e, se ela recomeçar, recomeçai vós também e eu vos asseguro, que acabará pondo cobro à língua".

O marido nunca deve perder de vista que a sua companheira é mais fraca do que ele e que seria desairoso abusar da força muscular para subjugá-la.

O marido é o chefe, em sua casa; está no seu papel. E onde, ao contrário, a mulher é quem pretende governar, andará tudo à matroca. Saiba, portanto, o marido portar-se com firmeza, mas, com bondade, paciência e critério; também não esqueça que uma boa palavra basta, ás vezes, para extinguir um incêndio.

Por isso, diz S. Agostinho: "Se Deus houvera feito a mulher para governar o marido, Ele a houvera tirado da cabeça de Adão; se a destinara a ser escrava do homem, tirá-la-ia dos pés; mas, querendo que lhe fosse companheira, formou-lha do lado".



5º - Não faleis muito.

A mulher que pretende obrigar o marido a ouvir-lhe um sermão muito comprido, ou há de humilhá-lo ou há de fazê-lo rir. Ouvirá, por desfastio, aquele ridículo sermão, admirando a eloqüência de sua cara metade, que sabe falar tanto, para não dizer nada. E, quando ela tiver concluído a longa predica que há dias vinha estudando, o marido, até ali, respeitosamente de pé a ouvir a oradora, assentando-se prorromperá em uma estrondosa gargalhada!

Sucesso inesperado, para tão augusto orador: nenhum resultado prático e, além disso, terá talvez provocado uma tempestade!

Se tivesse sido breve, afável, comedida nas palavras, ele aceitaria a humilhação, reconhecendo-a justa; teria tido para a sua companheira, uma palavra meiga, prometeria corrigir-se. Mas, se as admoestações não são feitas em termos ou se se repetem à moda de realejo, se, para apontar-lhe o erro ou o mau procedimento, emprega comparações, exemplos, hipérboles e outras figuras retóricas, capazes de pôr à prova a paciência de um santo, o marido acabará por dizer, formalizando-se: "Bem, querida, agora basta". E então, faze-lhe-á sentir resoluto, que aquela loquacidade não e feita para aproximar corações, nem operar conversões.

Portanto, em beneficio dos esposos, dos criados e dos filhos, muito recomendamos às senhoras, que não falem muito depressa, nem muito alto, nem muito tempo e que falem com modos.

E os homens, como hão de falar?

Os homens devem observar as mesmas recomendações. Aliás, eles, por bem ou por mal, assim o fazem; ou porque tiveram a felicidade de desposar uma mulher que, neste ponto, lhes dá o bom exemplo ou porque lhes coube por sorte uma, de língua tão expedita e ligeira, que lhes não deixa tempo de proferir uma palavra e dar um aparte.

Não ponho dúvida, entretanto, em reconhecer que, se se colocassem nos dois pratos de uma balança as virtudes das senhoras e dos homens, elas é que sairiam vencendo.

A par da loquacidade, quase natural em muitas senhoras, há virtudes, cujo monopólio lhes pertence indiscutivelmente, sem o suspeitarem talvez. Os homens, em muitos pontos e não de somemos importância, ficam-lhes muito longe.

Por isso, a mulher devotada e prudente, contribui muito para melhorar o sexo forte, corrigindo-lhe o gênio pouco afável e pouco dedicado à esposa. É pelo bom uso da língua, que a mulher conseguirá corrigir o marido.

 

Fonte: http://a-grande-guerra.blogspot.com/









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