Cidadãos do Infinito




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11/02/2012
ACERCA DO RESPEITO HUMANO


I. Quem te impede, ó Minha filha, de fazer o bem e viver retirada, modesta, piedosa, obediente, tal, numa palavra, como uma donzela verdadeiramente cristã?

 

Uma palavra picante, um murmúrio, um zombaria, o que se dirá, o respeito humano, é por tão vãos motivos que tu concorres as danças, aos festins e teatro, que entreténs amizades profanas, que escutas discursos pouco discretos, maledicências, críticas e calúnias mesmo que prejudicam o próximo. Deixas-te cair freqüentes vezes nessas culpas, mau grado teu e contra a tua consciência. E por quê? com o medo de seres chamada beata ou escrupulosa, e a fim de pareceres tão livre tão viva, tão mundana como as outras. Aonde está, pois, minha filha, a tua fé, o temor de Deus e o amor da tua salvação eterna, e o teu zelo em salvar a tua alma?

 

Quando assim te conduzes, como podem ser sinceros os protestos que tens feito tão freqüentes vezes de querer perder tudo, até mesmo a vida antes que ofender a Deus pelo pecado? Mentirosa, poderia Eu dizer-te com razão; se visses brilhar sobre a tua cabeça uma espada cortante, estarias disposta a perder a vida para conservares a fé? Como suportarias tu as prisões, as tenazes, as rodas, os cavaletes e as fogueiras, como Santa Inês, Santa Catarina, Santa Filomena, Santa Águeda, e muitas milhares de virgens cristãs, se não podes sofrer uma palavra frívola e vencer o respeito humano? ai! quantas cristãs desgraçadas, e tu com elas, demonstram pelas suas ações que renegariam a fé, o céu e Deus, se o tempo das perseguições voltasse. Oh! piedade para a tua alma.

 

II. Se crês, Minha filha, fechar todas as bocas, impedir toda a crítica e toda a zombaria de te atingir, aplicando-te a viver como louca, assim como fazem as jovens mundanas, enganas-te estranhamente. O mundo deixaria de ser tão mau como na realidade é, se cessasse de ridicularizar, de censurar, de desprezar aquele que cumpre o seu dever. Chamar-te-á grosseira, triste, cheia de preconceitos, se vives bem; apodar-te-á de extravagante, libertina e descarada se vives mal; de toda a maneira serás o objeto das suas maldades. Considera as pessoas mais perfeitas que têm vivido no mundo e acharás que todas, sem exceção, têm sofrido esta experiência. O próprio Meu divino Filho foi despedaçado pela língua dos escribas e fariseus, que, não podendo encontrar nEle defeitos reais, caluniaram a Sua doutrina e mesmo os Seus milagres.

 

Tu tornaste semelhante aos mundanos para que eles não zombem de ti para não seres olhada como uma donzela cheia de escrupulosoInsensata que és! não temes, pois as justas censuras de pessoas virtuosas que não poderão aprovar a tua conduta? Se fazes o bem, será escarnecida e injuriada, mas injustamente, se praticas o mal, serás censurada, e com muita justiça, pelos bons cristãos. Nesta alternativa não é uma loucura preferir o pior partido? Pratica, pois a virtude por necessidade; cumpre os teus deveres de cristã, e deixa falar os maus. As suas criticas e zombarias serão outros tantos testemunhos á tua virtuosa conduta. Serão eles próprios por fim obrigados a admirar a tua constância e estimar-te, apesar de tudo quanto tiverem dito de ti a suas bocas mordazes. Em todo o caso não podes servir dois senhores, o mundo e Deus, e deves necessariamente desagradar a um dos dois, e não deves incorrer na cólera de Deus para te tornares agradável ao mundo

 

III. Demais, Deus nos tratará como nós O tivermos tratado. Aquele que cora diante de Mim e diante dos homens, disse o Meu divino Filho, far-Me-á corar de si diante do Meu Pai celeste e dos Meus anjos. Ah! Minha filha, era preciso que visses que figura fazem esses insultadores da virtude e das boas obras perante o tribunal terrível do soberano Juiz. De que arrependimento, ou antes, de que desespero eles são tomados nesse momento!


Insensatos que nós erramos, gritam eles: olhávamos a vida dos justos como uma loucura, críamos que a morte não era seguida de glória alguma, tratávamo-los de néscios, de ignorantes, mas eis que os vemos no número dos filhos de Deus e a ventura dos santos é a sua partilha. Ó cegos, ó insensatos que nós éramos!”

 

Com que boa vontade eles voltariam ao mundo para sofrer, sem se inquietarem com os vãos julgamentos dos homens! Como esses desprezos com que têm atacado os justos durante a sua vida lhes seriam queridos! Mas então todo o arrependimento é inútil. O tempo passou, já não há remédio; uma desonra e um desprezo eterno os segue para o inferno. E tu escolherias uma sorte igual para não seres neste mundo criticada pelos maus? Oh! deixa falar os mundanos e despreza com coragem suas críticas; as suas maldades acabarão bem cedo, e tanto elas se tornarão em sua confusão, quanto servirão para a tua honra e glória.

 

Afetos. Ó Maria, Minha terna Mãe, quanto me envergonho da minha conduta passada. Ai! o respeito humano não tem feito mais que impedir-me de trabalhar para o bem da minha alma. Uma palavra, uma zombaria, um sorriso, um murmúrio, tem-me feito desprezar mais que uma vez aquilo que reconheço por um dever imperioso, não obstante as censuras da minha consciência. Não somente o respeito humano me tem impedido de praticar o bem, mas, ó meu Deus! quantas vezes me tem impelido até a fazer mal. Desgraçada!como resistirei aos tormentos e á morte se não sei sofrer uma zombaria mundana! Vós censurais-me com razão, ó querida Mãe! Quão terríveis serão os juízes da minha fraqueza no tribunal de Deus, esses magnânimos e intrépidos heróis que nunca puderam ser movidos por tudo quanto a barbaridade humana tem inventado de mais cruel. Como a invencível constância e a inalterável paciência que ostentaram no meio dos mais atrozes tormentos fará envergonhar a minha covardia!

 

Mãe de Deus, alcançai-me o dom da força e constância, afim de que não mais me torne escrava do respeito humano, e que ele me não impeça mais de praticar o bem, de cumprir todos os deveres a que me obrigam o meu estado e profissão. Fazei que eu tema muito mais aquilo que Deus diria de mim, que todo o mal que o mundo corrupto possa dizer.

 

(Maria falando ao coração das Donzelas, por Abade A. Bayle, 1917)










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