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01/06/2021
O que é a santidade?


“Todos na Igreja, quer pertençam à hierarquia, quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade”, afirma o Concílio Vaticano II. Isso significa que todos os católicos, e não somente os clérigos e religiosos, devem tender à santidade, uma vez que possuem este chamado divino enraizado no mais profundo da sua alma.

Diante desta verdade, porém, o que sabem os católicos a respeito da santidade? Poucos são os que não erram quanto a este assunto.

Nesta pregação, Padre Paulo Ricardo nos ensina em que consiste a santidade e como os sacerdotes e os leigos podem chegar à perfeição cristã, trilhando dia a dia o caminho do amor.

A Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, afirma o seguinte a respeito da vocação cristã: Todos na Igreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade” [1]. Isso significa que todos os católicos, e não somente os clérigos e religiosos, devem tender à santidade, uma vez que possuem este chamado divino enraizado no mais profundo da sua alma.

Diante desta verdade, porém, o que sabem os católicos a respeito da santidade? O mínimo, tão somente… Poucos são os que não erram quanto a este assunto, visto que a maioria pensa tratar-se simplesmente de uma reta conduta, isto é, “não pecar”, ignorando que, além disso, a santidade diz respeito à generosidade de coração. Por isso São Roberto Belarmino defendia a canonização de São Luís Gonzaga não tanto pela fidelidade do jovem aos dez Mandamentos, algo deveras inquestionável em sua vida e necessário a todos nós, mas pelo amor de Deus que o consumira inteiramente.

O que significa ser santo. — O “jovem rico” do Evangelho é um exemplo claro dessa realidade. Desde pequeno, ele já tinha o hábito louvável de cumprir os Mandamentos da lei de Deus: santificava o sábado, honrava pai e mãe, guardava a castidade, não cobiçava as coisas alheias, nem levantava falso testemunho etc. À primeira vista, tratava-se de um judeu exemplar, do qual não se podia levantar qualquer suspeita. Mas Jesus, que bem conhece o coração do homem (cf. Jo 2, 25), lança-lhe um olhar amoroso e convida-o à perfeição: “Se queres ser perfeito, vai, vende teus bens, dá-os aos pobres e terás um tesouro no céu. Depois, vem e segue-me” (Mt 19, 21). E “ouvindo estas palavras”, conta o Evangelista, “o jovem foi embora muito triste, porque possuía muitos bens” (Mt 19, 22).

Esse “jovem rico” de que fala o Evangelho é imagem de muitos de nós. Para entrar na vida, como diz Jesus, basta mesmo o cumprimento dos Mandamentos. Todavia, a perfeição cristã trata de uma entrega muito maior, de sacrifício, luta e desapego total das coisas do mundo, a fim de que somente Deus e as coisas celestes dominem nossas faculdades. Um cristão que não se disponha a amar desse modo corre o risco de caminhar triste como o “jovem rico”, porque está apegado a muitos bens temporais.

Com efeito, o primeiro dever de todo cristão que almeja a santidade é o de permanecer em estado de graça. “Permanecei no meu amor”, diz Jesus aos Apóstolos, “para que produzais fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 9-17). Quem não permanece em Cristo, torna-se, por conseguinte, seu inimigo e põe a sua alma em sério risco de condenação. Quem morre em pecado mortal, morre em um estado de profunda desgraça, e somente uma contrição perfeita poucos minutos antes da morte é que pode salvá-lo.

O mero estado de graça, porém, não leva ninguém direto para o Céu. A maior parte dos que morrem em estado de graça vai para o purgatório, porque estes não conseguiram atingir aquela perfeição necessária à alma para contemplar a face de Deus. É o caso do “jovem rico”. Ele não quis pagar o preço de ser santo, e contentou-se com a mediocridade. Por isso, ele provavelmente teve de pagar no purgatório, onde as dores são infinitamente maiores que a maior dor de Cristo na Cruz, o que não quis pagar aqui na terra, ou seja, o preço do amor.

A santidade é uma transformação que acontece na alma da pessoa, de tal modo que não só não peca mais, como também ama generosamente de forma divina. Em linguagem teresiana, é o caso dos santos que, progredindo no caminho da santidade, chegam às sétimas moradas, onde a alma, introduzida pela graça nos mistérios de Deus, entende tudo o que crê pela fé e une-se à Santíssima Trindade como num matrimônio espiritual. Não se entende, com isso, que a pessoa perde a liberdade, mas a contemplação clara das coisas de Deus torna a sua vontade completamente indiferente aos estímulos do maligno. Essa alma deseja apenas a verdade.

A santidade sacerdotal. — Os padres, justamente porque têm o dever de santificar as almas, não podem ignorar essa realidade espiritual. Ao contrário, o Concílio Vaticano II fez questão de exortar os sacerdotes a uma vida totalmente configurada a Cristo:

Os presbíteros, à semelhança da ordem dos Bispos, de que são a coroa espiritual, já que participam das suas funções por graça de Cristo, eterno e único mediador, cresçam no amor de Deus e do próximo com o exercício do seu dever quotidiano; guardem o vínculo da unidade sacerdotal, abundem em toda a espécie de bens espirituais e dêem a todos vivo testemunho de Deus, tornando-se êmulos daqueles sacerdotes que no decorrer dos séculos, em serviço muitas vezes humilde e escondido, nos deixaram magnífico exemplo de santidade. O seu louvor persevera na Igreja. Orando e oferecendo o sacrifício pelo próprio rebanho e por todo o Povo de Deus, conforme é seu ofício, conscientes do que fazem e imitando as realidades com que lidam, longe de serem impedidos pelos cuidados, perigos e tribulações do apostolado, devem antes por eles elevar-se a uma santidade mais alta, alimentando e afervorando a sua ação com a abundância da contemplação, para alegria de toda a Igreja de Deus. Todos os presbíteros, e especialmente aqueles que por título particular da sua ordenação são chamados sacerdotes diocesanos, lembrem-se de quanto ajudam para a sua santificação a união fiel e a cooperação generosa com o próprio Bispo. (grifos nossos) [4]

No rito de ordenação presbiteral, o bispo faz o mesmo pedido pela santificação dos novos sacerdotes:

Concedei, também agora, à nossa fraqueza, Senhor, estes cooperadores, de que tanto necessitamos no exercício do sacerdócio apostólico. Nós vos pedimos, Pai todo-poderoso, constituí estes vossos servos na dignidade de Presbíteros; renovai em seus corações o Espírito de santidade; obtenham, ó Deus, o segundo grau da Ordem sacerdotal, que de vós procede, e sua vida seja exemplo para todos [5].

 

Notem, portanto, que é uma contradição um padre não querer ser santo, uma vez que a santidade é parte essencial da estrutura sacerdotal. Se o bispo não disser as palavras em negrito acima, a ordenação não acontece. E não acontece porque não se pode conceber um sacerdote que não seja reflexo de Jesus Cristo, sacerdote e vítima pelos nossos pecados. Cristo fez-se hóstia pura e ofereceu-se por nós. Do mesmo modo, os padres precisam consagrar as suas vidas totalmente à salvação das almas, como verdadeiros cordeiros que tiram o pecado do mundo. Do contrário, a vida sacerdotal acaba se tornando uma grande farsa.




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