Cidadãos do Infinito




Santíssima Trindade
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04/01/2012
PAPA JOÃO PAULO II - Deus Uno e a Trindade Santa
O Deus único é a inefável e Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo


1. A Igreja professa a sua fé no Deus único, que é ao mesmo tempo Trindade Santíssima e inefável de Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. E a Igreja vive desta verdade, presente nos mais antigos Símbolos de Fé, e recordada nos nossos tempos por Paulo VI, por ocasião do 1.900º aniversário do martírio dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo (1968), no Símbolo que ele mesmo apresentou e que se conhece universalmente como “Credo do Povo de Deus”.

Apenas aquele que quis dar-se-nos a conhecer e que “habitando numa luz inacessível” (1 Tim 6, 16) é em Si mesmo por cima de todo o nome, de todas as coisas e de toda a inteligência criada… pode dar-nos o conhecimento justo e pleno de Si mesmo, revelando-se como Pai, Filho e Espírito Santo, a cuja eterna vida nós estamos chamados, pela sua graça, a participar, aqui em baixo na escuridão da fé e, depois da morte, na luz perpétua… (cf. Insegnamenti di Paolo VI, Vol. VI, 1968, págs. 302-303.).

2. Deus, que para nós é incompreensível, quis revelar-se a Si mesmo não só como único criador e Pai omnipotente, mas também como Pai, Filho e Espírito Santo. Nesta revelação a verdade sobre Deus, que é amor, se desvela na sua fonte essencial: Deus é amor na vida interior de uma una única divindade.

Este amor revela-se como uma inefável comunhão de Pessoas.

3. Este mistério – o mais profundo: o mistério da vida íntima do próprio Deus— foi-nos revelado por Jesus Cristo: “Aquele que está no seio do Pai, foi quem o deu a conhecer” (Jo 1, 18). De acordo com o Evangelho de S. Mateus, as últimas palavras, com que Jesus Cristo conclui a sua missão terrena depois da ressurreição, foram dirigidas aos Apóstolos: “Ide… e ensinais a todas as gentes, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19). Estas palavras inauguravam a missão da Igreja, indicando-lhe o seu compromisso fundamental e constitutivo. A primeira tarefa da Igreja é ensinar e baptizar – e baptizar quer dizer “submergir” (por isso se baptiza com água) — na vida trinitária de Deus.

Cristo encerra nestas últimas palavras tudo o que anteriormente tinha ensinado sobre Deus: sobre o Pai, sobre o Filho e sobre o Espírito Santo. Efectivamente, tinha anunciado desde o princípio a verdade sobre o Deus único, em conformidade com a tradição de Israel. À pergunta: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”, Jesus tinha respondido: “O primeiro é: Escuta Israel: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor” (Mc 12, 29). E ao mesmo tempo, Jesus tinha-se dirigido constantemente a Deus como “seu Pai“, ao ponto de assegurar: “Eu e o Pai somos uma só coisa” (Jo 10, 30). Do mesmo modo tinha revelado também o “Espírito da verdade, que procede do Pai” e que – assegurou – “eu vos enviarei de parte do Pai” (Jo 15, 26).

4. As palavras sobre o baptismo “em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”, confiadas por Jesus aos Apóstolos ao concluir a sua missão terrena, têm um significado particular, porque consolidaram a verdade sobre a Santíssima Trindade, colocando-a na base da vida sacramental da Igreja. A vida de fé de todos os cristãos começa no baptismo, com a imersão no mistério do Deus vivo. Disso são prova as Cartas apostólicas, principalmente as de São Paulo. Entre as fórmulas trinitárias que elas contêm, a mais conhecida e constantemente utilizada na liturgia, é a que se encontra na segunda Carta aos Coríntios: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus (Pai) e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco” (2 Cor 13, 13). Encontramos outras na primeira Carta aos Coríntios; na Carta aos Efésios e também na primeira Carta de São Pedro, no início do primeiro capítulo (1 Pe 1, 1-2).

Como um reflexo, todo o desenvolvimento da vida de oração da Igreja assumiu uma consciência e um impulso trinitário: no Espírito, por Cristo, ao Pai.

5. Deste modo, a fé no Deus uno e trino entrou desde o princípio na Tradição da vida da Igreja e dos cristãos. Em consequência, toda a liturgia foi – e é – pela sua essência, trinitária, na medida em que é expressão da economia divina. É preciso destacar que a compreensão deste mistério supremo da Santíssima Trindade contribuiu para a fé na redenção, isto é, a fé na obra salvífica de Cristo. Ela manifesta a missão do Filho e do Espírito Santo que no seio da Trindade eterna procedem “do Pai”, revelando a “economia trinitária” presente na redenção e na santificação. A Trindade Santa anuncia-se, primeiramente, através da soteriologia, isto é, através do conhecimento da “economia da salvação”, que Cristo anuncia e realiza na sua missão messiânica. Deste conhecimento arranca o caminho para o conhecimento da Trindade “imanente”, do mistério da vida íntima de Deus

6. Neste sentido o Novo Testamento contém a plenitude da revelação trinitária. Deus, ao revelar-se em Jesus Cristo, por um lado revela quem é Deus para o homem e, por outro, descobre quem é Deus em Si mesmo, isto é, na sua vida íntima. A verdade “Deus é amor” (1 Jo 4, 16), expressa na primeira Carta de João, possui aqui o valor de pedra angular. Se por intermédio dela se descobre quem é Deus para o homem, então revela-se também (enquanto seja possível que a mente humana o capte e as nossas palavras o expressem), quem é Ele em Si mesmo. Ele é Unidade, isto é, Comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

7. O Antigo Testamento não revelou esta verdade de modo explícito, mas preparou-a, mostrando a Paternidade de Deus na Aliança com o Povo, manifestando a sua acção no mundo com a Sabedoria, a Palavra e o Espírito (Cf., por exemplo, Sab 7, 22-30; Prov 8, 22-30; Sal 32/33, 4-6; 147, 15; Is 55, 11; Sab 12, 1; Is 11, 2; Sir 48, 12). O Antigo Testamento consolidou principalmente, em primeiro lugar em Israel e depois fora dele, a verdade sobre o Deus único, o centro da religião monoteísta. Devemos concluir, portanto, que o Novo Testamento trouxe a plenitude da revelação sobre a Trindade Santa e que a verdade trinitária esteve desde o princípio na raiz da fé viva da comunidade cristã, através do baptismo e da liturgia. O mesmo acontecia com as regras da fé, com que nos encontramos abundantemente tanto nas Cartas apostólicas, como no testemunho do kerygma, da catequese e da oração da Igreja.

8. Uma questão à parte é a formação do dogma trinitário no contexto da defesa contras as heresias dos primeiros séculos. A verdade sobre Deus uno e trino é o mais profundo mistério de fé e também o mais difícil de compreender: apresentava-se, pois, a possibilidade de interpretações erradas, especialmente quando o cristianismo entrou em contacto com a cultura e a filosofia grega. Tratava-se de “inscrever” correctamente o mistério do Deus trino e uno “na terminologia do ‘ser’”, isto é, de expressar de maneira precisa em linguagem filosófica da época os conceitos que definiam inequivocamente tanto a unidade como a trindade do Deus da nossa Revelação.

Isto aconteceu primeiramente nos dois grandes Concílios Ecuménicos de Niceia (325) e de Constantinopla (381). O fruto do magistério destes Concílios é o “Credo” niceno-constantinopolitano, com o qual, desde então, a Igreja expressa a sua fé no Deus uno e trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Recordando o trabalho dos Concílios, é necessário referir alguns teólogos particularmente beneméritos, sobretudo entre os Padres da Igreja. No período pré-niceno referimos Tertuliano, Cipriano, Orígenes, Irineu, e no período niceno Atanásio e Efrén Sírio, no período anterior ao Concílio de Constantinopla recordamos Basílio Magno, Gregório Nacianceno e Gregório Niseno, Hilário e também Ambrósio, Agostinho, Leão Magno.

9. Do século V chega-nos o chamado Símbolo atanasiano, que começa com a palavra “Quicumque”, e que constitui uma espécie de comentário ao Símbolo niceno-constantinopolitano.

O “Credo do Povo de Deus” de Paulo VI confirma a fé da Igreja primitiva quando proclama: “Os vínculos mútuos que consituem eternamente as três Pessoas, que são cada uma um único e idêntico Ser divino, são a bem-aventurada vida íntima de Deus três vezes Santo, infinitamente mais além de tudo o que nós podemos conceber com medida humana (cf. D.-Sch. 804)” (Insegnamenti di Paolo VI, 1968, pág. 303): realmente, inefável e santíssima Trindade – único Deus!







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